Os Caidebike foram a Santiago De Compostela


Já dei muitas voltas a este texto mas, por muito que tente, não vale a pena, não sou dotado para a escrita e não consigo passar para o ‘papel’ tudo aquilo que vivemos e sentimos naqueles três dias. Vou apenas tentar contar mais ou menos aquilo que fizemos sem aprofundar muito para não ficar uma seca. O Caminho de Santiago já foi percorrido por vários milhares de pessoas ao longo dos séculos e não faltam por aí relatos de peregrinações. A única diferença é que esta foi feita pelos Caidebike. 

Estavamos perto de Couce a reparar um furo quando a ideia começou a ganhar forma. Bastou uma câmara para filmar a ‘convocatória’ do Paulo Sousa, um pouco de edição, vai para o Facebook e já está. 

Decidimos fazer uma peregrinação o mais ‘pura’ possivel, de mochila ás costas, saco-cama e sem assistencia. Para dormir ficaríamos nos albergues de peregrinos, para comer paravamos pelo caminho. Para regressar alugariamos uma camioneta que levaria também as nossas familias e outros interessados em visitar Santiago, simples. Dividímos o percurso em 3/4 etapas:

1ª etapa 29/05/2011 Sé do Porto – Maia

Esta foi a etapa mais pequena, aproveitamos um passeio dominical para fazer os primeiros kms do Caminho, assim no fim-de-semana de 10, 11 e 12 de Junho podiamos arrancar de Ermesinde e seguir logo para Norte, ganhando alguns kms. Como de costume, juntamo-nos no café Ponto Final e arrancamos para a Sé. Mas não foi fácil lá chegar. Tivemos mais furos e avarias de Ermesinde á Sé do que em todo o Caminho (!!!). Chegados á Sé tratamos dos carimbos, foto de grupo e aí vamos nós.
É muito engraçado o início do Caminho Português. Ruelas muito estreitas onde quase entramos em casa das pessoas, degraus, descidas e curvas apertadas, Lindo! O Porto visto com olhos de Peregrino tem outro aspecto. Tem mais historia e muitas setas amarelas  “...tantas vezes passei aqui e nunca reparei nas setas... “, umas setas amarelas toscas, feitas a pincel mas que nos levariam direitinho a Santiago.
Ainda conseguimos sujar os pneus com terra logo a seguir ao Carvalhido mas nem deu para aquecer, foi sempre em alcatrão, Monte dos Burgos, Padrão da Légua... Chegados ao Carvalho Santo no Araujo viramos á direita e começamos a descer mas, como não queriamos atravessar a Via Norte e avançar os rails criamos um plano B: vamos pela ponte do metro!
Entretanto uma local avisou-nos que corríamos o risco de ser multados se fossemos apanhados pelo que achamos melhor não passar na estação, já do outro lado da ponte avançamos a grade, fizemos uns metros da antiga linha Porto-Guimarães, descemos para a rua e já estávamos novamente no Caminho. Os Caidebike inventaram um a nova versão do Caminho. Chegados á Igreja da Nossa Senhora do Bom Despacho na Maia demos por cumprida a 1ª parte da 1ª etapa.

1ª etapa (2ª parte), 10 de Junho Café Ponto Final – Valença = 112.90 Km 

O ponto de encontro foi no café Ponto final. O dia estava magnifico para andar de bike. Céu limpo e uma brisa fresca. Fizemos um ultimo check-up e arrancamos. O moral estava alto e é escusado dizer que nos primeiros kms da viagem não se disse nada de jeito...Tinhamos dorsais nas bikes feitos pelo Cláudio e o Edgar foi mais além trazendo a vassoura da filha com a bandeira dos Caidebike presa á mochila. Era o bike-vassoura oficial do Caminho! Rumamos em direcção á Igreja da Nossa Senhora do Bom Despacho na Maia onde tinhamos ficado á uns dias atrás mas, nem paramos, só voltariamos a faze-lo na zona industrial para juntar o resto da equipa, o Hercilio e o Pedro. Continuamos com a conversa sem conteudo antes, durante e depois do pequeno-almoço. Aqui e ali iamos tirando umas fotos e tirando uns goles duma bebida energetica que o homem da bike-vassoura preparou em casa e que funcionou... 
Chegados a Rates começamo-nos a sentir no Caminho. Visitamos o mosteiro, carimbamos o passaporte e cruzamo-nos com os primeiros grupos de peregrinos. Os primeiros de muitos. Como queríamos chegar a Ponte de Lima a tempo de almoçar voltamos para a estrada e foi sempre a andar, ou quase, mais umas paragens para fotos em Barcelos, 2 furos seguidos, os únicos mas, lá conseguimos.
Almoçamos no restaurante Alameda e conseguimos repor os hidratos de carbono gastos e mais alguns. Como o sol ainda estava alto quando acabamos de almoçar decidimos ‘atacar’ a Labruja e ficar a dormir em Rubiães. Foi mais fácil dizê-lo que fazê-lo. Antes da Labruja temos um bom aquecimento, é sempre a subir, depois de subir. Em estrada aparece a ‘escadaria’, esta é sem duvida o troço mais difícil do Caminho. 
A mochila não ajudou e os rojões muito menos... mas não foi por isso que o moral foi abaixo e compensou porque a descida é brutal (havemos de lá ir só para fazer aquela parte...) Tem muita pedra solta e grandes desníveis All-mountain autentico até ao albergue, Fantastico!!! 
panadinhos, rissois... não tinha croquetes mas não interessa. Deu para levantar o moral para fazer os 20kms que nos faltavam.Esta parte foi feita a voar, é a descer até Valença num caminho durinho mas muito divertido. A residencial não era luxuosa mas ao fim de 120km, (saímos de casa de bicla) e 13h a rolar pareceu-nos o Hilton. A seguir nada de especial, um bom banho, um bom jantar para repor hidratos e líquidos o melhor possível e cama!

2ª etapa - Valença – Caldas Del Rei – 86.2 Km 

Saímos da cama bem cedo, o proprietario deixou-nos lavar as bikes. Aproveitamos também para lubrificar e arrancamos. Á conta disso só conseguimos arranjar pequeno-almoço em Valença. Ainda estava tudo a dormir e a seguir entramos em Espanha pela Ponte Internacional. Subimos até á Catedral de Tuí, aí perdemos mais um tempinho a tirar fotos, vale bem a pena. Tentamos não parar tantas vezes neste 2º dia mas era dificil, não faltavam pontos de interesse para parar e tirar fotos, excepção feita á recta do Poligono industrial de las Gandaras de Budiño que nunca mais acaba e dá para conhecer quase toda a gama Citroen. Atravessamos a linha do comboio por uma ponte metalica um pouco escorregadia.Mais tarde contaram-nos que dois cavaleiros portugueses que faziam o Caminho tiveram problemas a passar a ponte. Os cavalos escorregaram e vieram cá abaixo, quem viu disse que não era um cenário bonito, espero que entretanto já tenham recuperado, os cavalos. Chegados a Redondela paramos no Dia, era o que havia, para comprar o almoço..
É um dos pontos a melhorar numa próxima edição, a falta de boa comida reflectiu-se no nosso rendimento, e para um tuga não é facil comer em Espanha. Gostei desta etapa, da paisagem e da diversidade de trilhos no entanto também foi difícil. Tinha varias subidas, estava um dia quente e a quantidade de betetistas em direcção a Santiago era incrivel, de fazer lembrar a concentração de Faro. A dada altura alguém sugere –“ E se tirássemos o selim, era capaz de não doer tanto...”- naquele momento a ideia não era assim tão maluca. As mochilas, carregadas com o mínimo de roupa e equipamento, tudo criteriosamente escolhido com base no peso e utilidade, já pesavam mais que um concorrente do Peso Pesado e, mesmo com selins anatómicos em gel os ‘huevos’ já estavam espalmados, doía tanto a levantar como a sentar. 
Chegamos a Caldas de Reis a tempo de jantar. Paramos na esquadra para carimbar e perguntar o caminho para o albergue para onde ‘voamos’ mas, como seria de esperar estava cheio, assim como todas as pensões e residências disponiveis... ai vamos nós outra vez... Safou-nos a indicação dum local que nos sugeriu uma pensão ali perto e por menos de 30 segundos que não perdemos o lugar para a menina dos croquetes que também estava a tentar arranjar quartos para o grupo que acompanhava. Esta pensão tinha um ambiente familiar e, mais importante, uma garagem para as biclas. Depois de ‘montar a tenda’ fomos jantar ao centro da vila e ainda deu para dar uma volta para conhecer a fonte de agua quente e a beira rio. Regressamos á pensão e aproveitamos para pagar logo os quartos. O Bessa tentou negociar o preço mas, a resposta é-nos familiar: -“ isto está muy malo...”- mas conseguiu uma garrafa de licor de café geladinho e que bem que soube! 
Deu para molhar a palavra enquanto conversamos na sala e só fomos para a cama quando um senhor idoso em cuecas apareceu não sabemos muito bem donde e nos pediu para fazer menos barulho. Concordamos e fomos dormir que no dia seguinte iríamos acordar cedo novamente.

3ª etapa – Caldas Del Rei – Santiago de Compostela – 43.55 Km 

Terceiro e último dia de viagem. Pegamos nas bikes ainda com remela nos olhos e fizemo-nos á estrada. O primeiro objectivo era arranjar pequeno-almoço o que conseguimos, bem, mais ou menos, havia uma padaria aberta que tinha uns cacetes manhosos com manteiga... melhor que nada... Os primeiros kms foram sossegados, um ou outro caminheiro mas nada de biclas. Com o passar das horas a coisa mudou e voltamos á romaria de bicicletas e caminheiros a caminho de Santiago, eram ás centenas. 
O Caminho nesta parte não é difícil e é muito engraçado sendo na sua maioria a subir mas, talvez por estarmos perto não custou muito, uns iam puxando pelos outros e quando demos conta já estávamos a chegar. Para entrar na cidade tivemos que trepar mais um bocadito até que entramos na zona antiga. Percorremos as ruas estreitas e cheias de turistas até á Catedral a apitar para abrirem caminho e finalmente lá estava ela.
A imponente Catedral de Santiago, o átrio apinhado de gente com peregrinos que chegavam, as famílias que os esperavam ou simples turistas. Não tardou até que as nossas famílias se juntassem a nós também, trazidas pela camioneta fretada para o efeito (a malta não brinca..). Depois de um bom merendeiro á Portuguesa tivemos tempo para visitar a Catedral e levantar a Compostela, o que ainda demorou um pouco. Á vinda, mais uma paragem em Ponte de Lima porque se gastamos muita energia  tínhamos que a repor.
Nestes 3 dias não fizemos nada de excepcional, o Caminho é percorrido há umas centenas de anos valentes por milhares de pessoas. Muitas vezes dei por mim a imaginar como seria fazer estes caminhos há muitos anos atrás, sem algumas pontes, sem mapas, sem Google, sem telemóvel sem as 1001 merdinhas feitas de materiais xpto que achamos fundamentais... Foi duro é certo mas, o prazer e a satisfação de chegar a Santiago é incrível, não pela só pela chegada mas pela própria viagem. Pelos imprevistos, pela amizade e pela camaradagem. Mesmo nos momentos mais difíceis havia sempre uma piada ou uma palavra de animo. E apercebemos-nos que a Catedral não é uma meta mas sim o fim de mais uma etapa e inicio de outra... 

Total – 242.6 Km 

Peregrinos: 

Cláudio Lopes 

Edgar Santos 

Hercilio Santos 

José Bessa 

Mário Ribeiro

Nuno Silvério

Paulo Sousa

Pedro Pinto

Sabino Monteiro

Vítor Pinto

Agradecimentos: Pessoal, para mim foi o melhor grupo para fazer uma peregrinação mas, temos que agradecer aos Caidebikers que mais trabalharam para isto acontecer que foram o Cláudio Lopes o Paulo Sousa e o Mário Ribeiro! 

Vítor Pinto












6 comentários:

  1. Grande Vitor,

    e assim a jornada começou

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  2. esqueci-me
    Mário Ribeiro

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  3. Fantástico,
    Bom relato Vitor ao ler lembro-me sempre de mais mil e uma coisas que aconteceram mas que ficam cá conosco, e como disseste a chegada não foi um final mas sim o inicio de mais uma etapa

    Mário Ribeiro

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  4. Ha coisa q é melhor não partilhar, como quando paramos em Mós para uma certa e determinada pessoa beber um iogurte... parece mal... :)

    Vitor Pinto

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